REANP de Língua Portuguesa // Professora: Joissy Borges // Data: 02/08/2021
Escola
Municipal Justiniano José Machado.
Data: 02/08/2021
Disciplina: Língua Portuguesa
Professora: Joissy Borges da Silva
Conteúdo: Leitura e interpretação de texto.
Aluno ( a ): _______________________________
Série: 8° Ano
v Leia o
texto “A terra dos meninos pelados”.
A terra dos meninos
pelados
Havia um menino diferente dos outros
meninos. Tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada. Os
vizinhos mangavam dele e gritavam:
—
Ó pelado!
Tanto
gritaram que ele se acostumou, achou o apelido certo, deu para se assinar a
carvão, nas paredes: Dr. Raimundo Pelado. Era de bom gênio e não se zangava;
mas os garotos dos arredores fugiam ao vê-lo, escondiam-se por detrás das
árvores da rua, mudavam a voz e perguntavam que fim tinham levado os cabelos
dele. Raimundo entristecia e fechava o olho direito. Quando o aperreavam
demais, aborrecia-se, fechava o olho esquerdo. E a cara ficava toda escura.
Não
tendo com quem entender-se, Raimundo Pelado falava só, e os outros pensavam que
ele estava malucando.
Estava
nada! Conversava sozinho e desenhava na calçada coisas maravilhosas do país de
Tatipirun, onde não há cabelos e as pessoas têm um olho preto e outro azul.
Um
dia em que ele preparava, com areia molhada, a serra de Taquaritu e o rio das
Sete Cabeças, ouviu os gritos dos meninos escondidos por detrás das árvores e
sentiu um baque no coração.
—
Quem raspou a cabeça dele? perguntou o moleque do tabuleiro.
—
Como botaram os olhos de duas criaturas numa cara? berrou o italianinho da
esquina.
—
Era melhor que me deixassem quieto, disse Raimundo baixinho. Encolheu-se e
fechou o olho direito. Em seguida, foi fechando o olho esquerdo, não enxergou
mais a rua. As vozes dos moleques desapareceram, só se ouvia a cantiga das
cigarras. Afinal as cigarras se calaram.
Raimundo
levantou-se, entrou em casa, atravessou o quintal e ganhou o morro. Aí
começaram a surgir as coisas estranhas que há na terra de Tatipirun, coisas que
ele tinha adivinhado, mas nunca tinha visto. Sentiu uma grande surpresa ao
notar que Tatipirun ficava ali perto de casa. Foi andando na ladeira, mas não
precisava subir: enquanto caminhava, o monte ia baixando, baixando, aplanava-se
como uma folha de papel. E o caminho, cheio de curvas, estirava-se como uma
linha. Depois que ele passava, a ladeira tornava a empinar-se e a estrada se
enchia de voltas novamente.
—
Querem ver que isto por aqui já é a serra de Taquaritu? pensou Raimundo.
—
Como é que você sabe? roncou um automóvel perto dele.
O
pequeno voltou-se assustado e quis desviar-se, mas não teve tempo. O automóvel
estava ali em cima, pega não pega. Era um carro esquisito: em vez de faróis,
tinha dois olhos grandes, um azul, outro preto.
—
Estou frito, suspirou o viajante esmorecendo.
Mas
o automóvel piscou o olho preto e animou-o com um riso grosso de buzina:
—
Deixe de besteira, seu Raimundo. Em Tatipirun nós não atropelamos ninguém.
Levantou
as rodas da frente, armou um salto, passou por cima da cabeça do menino, foi
cair cinquenta metros adiante e continuou a rodar fonfonando. Uma laranjeira
que estava no meio da estrada afastou-se para deixar a passagem livre e disse
toda amável:
—
Faz favor.
—
Não se incomode, agradeceu o pequeno. A senhora é muito educada.
—
Tudo aqui é assim, respondeu a laranjeira.
—
Está se vendo. A propósito, por que é que a senhora não tem espinhos?
—
Em Tatipirun ninguém usa espinhos, bradou a laranjeira ofendida. Como se faz
semelhante pergunta a uma planta decente?
—
É que sou de fora, gemeu Raimundo envergonhado. Nunca andei por estas bandas. A
senhora me desculpe. Na minha terra os indivíduos de sua família têm espinhos.
—
Aqui era assim antigamente, explicou a árvore. Agora os costumes são outros.
Hoje em dia, o único sujeito que ainda conserva esses instrumentos perfurantes
é o espinheiro-bravo, um tipo selvagem, de maus bofes. Conhece-o?
—
Eu não senhora. Não conheço ninguém por esta zona.
—
É bom não conhecer. Aceita uma laranja?
—
Se a senhora quiser dar, eu aceito.
A
árvore baixou um ramo e entregou ao pirralho uma laranja madura e grande.
—
Muito agradecido, dona Laranjeira. A senhora é uma pessoa direita. Adeus! Tem a
bondade de me ensinar o caminho?
—
É esse mesmo. Vá seguindo sempre. Todos os caminhos são certos.
—
Eu queria ver se encontrava os meninos pelados.
—
Encontra. Vá seguindo. Andam por aí.
—
Uns que têm um olho azul e outro preto?
—
Sem dúvida. Toda gente tem um olho azul e outro preto.
—
Pois até logo, dona Laranjeira. Passe bem.
—
Divirta-se. [...]
Raimundo
deixou a serra de Taquaritu e chegou à beira do rio das Sete Cabeças, onde se
reuniam os meninos pelados, bem uns quinhentos, alvos e escuros, grandes e
pequenos, muito diferentes uns dos outros. Mas todos eram absolutamente calvos,
tinham um olho preto e outro azul.
O
viajante rondou por ali uns minutos, receoso de puxar conversa, pensando nos
garotos que zombavam dele na rua. Foi-se chegando e sentou-se numa pedra, que
se endireitou para recebe-lo. Um rapazinho aproximou-se, examinando-lhe,
admirado, a roupa e os sapatos. Todos ali estavam descalços e cobertos de panos
brancos, azuis, amarelos, verdes, roxos, cor das nuvens do céu e cor do fundo
do mar, inteiramente iguais às teias que as aranhas vermelhas fabricavam.
—
Eu queria saber se isto aqui é o país de Tatipirun, começou Raimundo.
—
Naturalmente, respondeu o outro. Donde vem você?
Raimundo
inventou um nome para a cidade dele que ficou importante:
—
Venho de Cambacará. Muito longe.
—
Já ouvimos falar, declarou o rapaz. Fica além da serra, não é isto?
—
É isso mesmo. Uma terra de gente feia, cabeluda, com olhos de uma cor só. Fiz
boa viagem e tive algumas aventuras.
[...]
Raimundo
deixa o rapazinho para trás, prossegue seu caminho e, em seguida, encontra com
um tronco, que lhe diz:
—
Espera aí. Um instante. Quero apresentá-lo à aranha vermelha, amiga velha que
me visita sempre. Está aqui, vizinha. Este rapaz é nosso hóspede.
A
aranha vermelha balançou-se no fio, espiando o menino por todos os lados. O fio
se estirou até que o bichinho alcançou o chão. Raimundo fez um cumprimento:
—
Boa tarde, dona Aranha. Como vai a senhora?
—
Assim, assim, respondeu a visitante. Perdoe a curiosidade. Por que é que você
põe esses troços em cima do corpo?
—
Que troços? A roupa? Pois eu havia de andar nu, dona Aranha? A senhora não está
vendo que é impossível?
—
Não é isso, filho de Deus. Esses arreios que você usa são medonhos. Tenho ali
umas túnicas no galho onde moro. Muito bonitas. Escolha uma.
Raimundo
chegou-se à árvore próxima e examinou desconfiado uns vestidos feitos daquele
tecido que as aranhas vermelhas preparam. Apalpou a fazenda, tentou rasgá-la,
chegou-a ao rosto para ver se era transparente. Não era.
—
Eu nem sei se poderei vestir isto, começou hesitando. Não acredito.
—
Que é que você não acredita? perguntou a proprietária da alfaiataria.
—
A senhora me desculpa, cochichou Raimundo. Não acredito que a gente possa
vestir roupa de teia de aranha.
—
Que teia de aranha! rosnou o tronco. Isso é seda e da boa. Aceite o presente da
moça.
—
Então muito obrigado, gaguejou o pirralho. Vou experimentar.
Escolheu
uma túnica azul, escondeu-se no mato e, passados minutos, tornou a mostrar-se
vestido como os habitantes de Tatipirun. Descalçou-se e sentiu nos pés a
frescura e a maciez da relva. Lá em cima os discos enormes das vitrolas
giravam; as cigarras chiavam músicas em cima deles, músicas como ninguém ouviu;
sombras redondas espalhavam-se no chão.
—
Este lugar é ótimo, suspirou Raimundo. Mas acho que preciso voltar. Preciso
estudar a minha lição de geografia.
Nisto
ouviu uma algazarra e viu através dos ramos a população de Tatipirun correndo
para ele:
—
Cadê o menino que veio de Cambacará? Eram milhares de criaturas miúdas, de
cinco a dez anos, todas cobertas de teias de aranha, descalças, um olho preto e
outro azul, as cabeças peladas nuas.
Não
havia pessoas grandes, naturalmente.
[...]
RAMOS, Graciliano.
Alexandre e outros heróis. São Paulo: Record, 1991.
v Copie as questões e responda.
1) Como eram fisicamente as pessoas e seres de Tatipirun?
2) Identifique e copie o trecho em que Raimundo passa de
seu lugar de origem para a terra de Tatipirun.
3) Ao chegar àquele novo mundo, Raimundo conhece várias
personagens. Como elas agem com o menino? Transcreva um trecho do texto que
possa ter como tema uma atitude de gentileza.
4) Quais eram as reações dos meninos da rua onde Raimundo
morava diante da aparência do garoto? Em sua opinião, por que isso
ocorria?
5) Identifique no texto quais personagens estão
relacionadas aos universos indicados a seguir:
a) Ao mundos dos humanos.
b) Ao universo dos objetos materiais
(inanimados que se tornaram animados na história).
c) Ao mundo animal.
d) Ao mundo vegetal.
v Produzir
uma crônica sobre O lugar onde vivo para próxima aula.

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